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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Da Ausência de Limites

Página 09

Na manhã do dia 14 último, cinco jovens de classe média, entre 16 e 19 anos, atacaram três outros jovens na Av. Paulista. Usando lâmpadas fluorescentes como bastões, eles espancaram um jovem até que ele desmaiasse e feriram mais três no seu ataque de fúria. A polícia investiga se a motivação foi homofobia, mas nesse momento eu nem quero discutir isso. O que me choca e assusta é o discurso dos pais desses jovens.
E mesmo com um rapaz internado, esses pais gritam que seus filhos são vítimas. Eles não são marginais! Eles estudam! Eles tem pais! Eles foram provocados e tiveram uma atitude infantil! E depois de uns dias na Fundação Casa, eu acredito que esses garotos serão recebidos em casa com honras de heróis. Serão mimados e se reforçará a ideia de que agredir pobres, ou negros, ou gays não é assim tão grave. Afinal quem são essas pessoas para estar no mesmo espaço que eles, filhos nobres da classe privilegiada desse país?
Esse discurso me assusta por que cria maginais. Ele propaga o preconceito. Mas antes disso é preciso pensar como esses jovens chegaram a esse ponto. Eles são um reflexo de um geração sem li-mites. Criada para acreditar que o mundo lhes deve algo. Com pais que abriram mão de sua posição de educadores e não aprenderam a dizer não aos filhos. Pais que substituem carinho por bens materiais, roupas de grifes e carros de marca. Que estão tão envolvidos em ganhar mais e mais dinheiro que esquecem de “perder” tempo para olhar o filho.
Eu tenho quatro meninos. Filhos da classe média também. E muitas vezes eu me preocupei com as companhias, com os lugares que eles frequentavam e com a ideologia que via ser propagada entre a turma deles. Eu sempre quis ser e sou amiga dos meus filhos, mas jamais abri mão do meu lugar de mãe. Nunca esqueci que a responsabilidade de educar era minha. E que isso incluía frustrá-los muita vezes. Como vender um vídeo game quando eles tinha 13, 11 e 8 anos por que os três quebraram as janelas da casa do vizinho e tinham que pagar. Ou dizer não, você não vai a festa. E aturar as caras feias em retorno.
Essa geração terceirizou a educação dos filhos, colocando nas mãos de babás e professores o que é sua responsabilidade como pais. E em lugar de amor e limites, dão presentes e liberdade excessiva. É de se estranhar que eles acreditem que não há nada de mais em bater em quem, por algum motivo, não fez ou não parece com o que ele quer?

Por Lilah Bianchi, autora do blog Tramas, Tranças e Bobagens

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